GERAL
11/03/2025 09H12

No fim de semana,
Donald Trump disse aceitar "dor no curto prazo" e não descartou
possibilidade de recessão em virtude de ajustes
Os mercados
globais recuaram nesta segunda-feira (10), após o presidente dos Estados
Unidos, Donald Trump, ter afirmado no domingo (9) que não descarta a
possibilidade de um cenário de recessão no país em virtude de suas
políticas econômicas.
Economistas ouvidos
pela CNN apontam que, no momento, o movimento se deve de fato mais
a temores do que a sinais concretos em si — apesar de afirmarem que
há sinais de desaceleração da maior economia do globo.
Indicadores que medem
o temor do mercado deterioraram neste pregão. Por exemplo, o “Índice de Medo e
Ganância” elaborado pela CNN Internacional recuou de 18 pontos no pregão de
sexta-feira (7) para 15 neste.
O indicador aponta
que os investidores dos EUA são pautados por “medo extremo” desde o final de
fevereiro.
O temor também se
refletiu em perdas nas principais bolsas de Wall Steet: Dow Jones perdeu 2,08%,
enquanto S&P 500 caiu 2,69% e Nadasq recuou 4%.
No domingo (9), Trump
minimizou a reviravolta no mercado de ações nas últimas semanas, decorrente de
ajustes fiscais e tarifários, e defendeu a estratégia de seu gabinete.
O que chamou atenção,
porém, foi a fala do republicano em não descartar risco de recessão nos EUA.
“Eu odeio prever
coisas assim. Há um período de transição, porque o que estamos fazendo é muito
grande. Estamos trazendo riqueza de volta para a América. Isso é uma grande
coisa. […] Leva um pouco de tempo, mas acho que deve ser ótimo para nós”, disse
ao programa “Sunday Morning Futures”, da Fox News.
Desaceleração no
radar
Analistas ouvidos
pela CNN afirmam que ainda é cedo apontar para riscos de recessão, apesar de
que sinais apontam para a perda de fôlego da economia norte-americana.
Paula Zogbi, gerente
de research da Nomad, observa que a atividade econômica norte-americana começa
a dar alguns sinais de desaceleração, como recuo na confiança do consumidor e
abertura de vagas de emprego abaixo do esperado.
Zogbi destaca,
sobretudo, a incerteza que gira em torno dos caminhos escolhidos para a
política econômica norte-americana.
“A bolsa
[norte-americana], que passou por um período de euforia após a vitória de
Trump, na expectativa de medidas de grande estímulo à economia americana,
devolveu todo esse ganho desde a posse”, pontuou a analista da Nomad.
“As ameaças de
tarifas de importação geram incerteza em relação ao ambiente inflacionário e ao
crescimento da atividade americana. Mais significativo que isso: a
administração Trump deixou bem claro que, desta vez, não tem como prioridade
manter o mercado sob controle no curto prazo”.
Além do temor com as
tarifas, Tony Volpon, ex-diretor para Assuntos Internacionais do Banco Central
(BC) e colunista do CNN Money, chama atenção para receios no mercado
norte-americano com:
A política de corte
de gastos do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE);
O fenômeno “DeepSeek”
que tirou o brilho do setor de inteligência artificial norte-americano;
A reação europeia de
gastar mais em resposta à postura de Trump com a Ucrânia, aumentando a
expectativa de crescimento europeu.
“Assim, dois mercados
acionários bem mais baratos e com pouca alocação ficaram mais atrativos: agora
os investidores globais têm razões para diversificar”, escreveu Volpon na rede
social X.
Os juros altos nos
EUA também podem ser uma pressão adicional para a atividade econômica. Porém,
Volpon avaliou que todas essas questões podem ser mitigadas, destacando que a
economia norte-americana é continental, voltada para serviços e relativamente fechada.
“O Fed tem muita bala
na agulha para cortar juros. Powell pode segurar um pouco, mas se o risco
recessivo realmente realizar, não duvidem que eles vão agir, e rápido”,
afirmou.
“Sem saber a extensão
da correção, ainda acredito que a probabilidade de uma recessão é pequena; que
a volatilidade vai moderar a agressividade da agenda de Trump; e que fatores
exógenos (Fed+crescimento global) vão ajudar”, concluiu.
Desse modo, por
enquanto, a avaliação é de que a economia ainda segue indo bem nos EUA.
Destaca-se,
sobretudo, o desemprego que segue baixo no país. Apesar de leve alta em
fevereiro, a taxa de desemprego nos EUA está em 4,1%.
Ademais, medida pelo
seu Produto Interno Bruto (PIB), a própria economia norte-americana avançou em
2024, fechando o ano em alta de 2,8%, segundo o Departamento de Análise
Econômica dos EUA (BEA).
Desse modo, a
conclusão de Andressa Durão, economista do ASA, é de que, até o momento, os
principais indicadores macroeconômicos que geralmente antecedem recessão não
mostram indícios claros de fraqueza, apenas uma desaceleração.
“O que se observa até
agora é um cenário de alta incerteza, que tem impactado tanto os mercados
quanto os indicadores macro qualitativos. Algumas pesquisas qualitativas podem
ser bons indicadores dos ciclos econômicos, mas, desde a pandemia, essas pesquisas
não anteciparam com precisão os movimentos da economia”, ponderou.
“Por isso, ficaremos
atentos aos próximos dados quantitativos, como os de vendas no varejo e
produção industrial, que serão divulgados na próxima semana, para avaliar se há
reflexos dessa incerteza na economia real.”